Ácido láctico
O ácido láctico ou lático ( do latim lac, lactis, leite), é um composto orgânico de função mista ácido carboxílico - álcool que apresenta fórmula molecular C3H6O3 e estrutural CH3 - CH ( OH ) - COOH. Participa de vários processos bioquímicos, e o lactato é o sal deste ácido.
Pela nomenclatura IUPAC é conhecido como ácido 2-hidroxi-propanóico ou ácido α-hidroxi-propanóico.
Propriedades
O ácido lático apresenta isomeria óptica:
- Destrógiro: d-ácido lático
- Levógiro: ℓ-ácido lático
- Racêmico: d,ℓ-ácido lático
Físicas
- Os isômeros d e ℓ desviam o plano de vibração da luz polarizada.
- Densidade = 1,206 g/mL
- Ponto de fusão: O racêmico funde a 18 °C e os d e ℓ fundem a 28 °C.
- Ponto de ebulição: racêmico entra em ebulição a 122 °C.
Obtenção
Fermentação láctea
- A partir do açúcar do leite (lactose) com o Bacillus lactis ácidi.
- A partir do amido, açúcar da uva (glicose) ou açúcar da cana (sacarose) utilizando o Bacillus Delbrücki
A obtenção de ácido lático com enzimas ou microorganismos vivos podem produzir os isômeros destrógiro ou levógiro, dependendo da enzima envolvida no processo.
Reação química em laboratório
Reagindo o etanal com uma mistura de cianeto de sódio e ácido sulfúrico:
- CH3 - COH + HCN ( NaCN + H2SO4 ) → CH3 - CH ( OH ) - COOH
A obtenção que não envolve enzimas produz, geralmente, o ácido lático racêmico.
Ocorrência
É encontrado no suco de carne, leite azedo, nos músculos e em alguns órgãos de algumas plantas ou animais.
Aplicações e usos
- Alimentação de crianças.
- Como purgante, na forma de lactato de cálcio ou lactato de magnésio.
- Removedor de sais de cálcio.
- Como mordente.
- Curtimento de peles.
- Matéria-prima em sínteses orgânicas.
- Como monômero do poliácido láctico.
Curiosidades
- O ácido lático, um dos primeiros ácidos conhecidos, foi descoberto pelo químico sueco Carl Wilhelm Scheele, no leite coalhado.
- É produzido nos músculos a partir do ácido pirúvico, durante exercícios vigorosos, produzindo dores musculares ou cãibras.
Respiramos mais depressa durante um exercício muscular, porque consumimos mais oxigênio. Nossos músculos, porém, são dotados de um mecanismo que garante a continuação do esforço, mesmo na ausência do oxigênio: a respiração anaeróbia, onde a glicose se decompõe na ausência do gás oxigênio, reproduzindo ácido lático. Quanto maior a atividade muscular, mais ácido lático se acumula no músculo, tornando-o fatigado e incapaz de contrair-se, produzindo cansaço e até cãibras.
- A acumulação de ácido láctico no corpo é designada por acidose láctica
O ácido láctico é um subproduto do metabolismo anaeróbio. E o que é metabolismo anaeróbio? De uma forma mais simplificada,
existem dois metabolismos energéticos: o metabolismo aeróbio e o metabolismo anaeróbio.
O metabolismo aeróbio é aquele em que a quebra da glicose com uma molécula de oxigénio fornece energia:
Glicose + Oxigénio ® CO2 + H2O + Energia
No metabolismo anaeróbio a quebra da glicose ocorre na ausência de oxigénio formando ácido láctico:
Glicose ® Ácido Láctico + Energia
O metabolismo aeróbio fornece maior quantidade de energia do que o metabolismo anaeróbio. Esses metabolismos actuam
conjuntamente durante a actividade física. A predominância de um sobre o outro se dá conforme a duração e a intensidade do
exercício. Exercícios de baixa intensidade e longa duração tem uma predominância do metabolismo aeróbio, havendo, portanto,
uma baixa concentração de ácido láctico. Exercícios de alta intensidade e curta duração têm um predomínio do metabolismo
anaeróbio, ocorrendo aumento na concentração de lactato.
O ácido láctico, por ser ácido, diminui o pH da célula, inibindo as reacções enzimáticas que ocorrem dentro da célula. Na
percepção geral do corpo, o indivíduo passa a ter uma sensação de fadiga generalizada, sentindo o corpo "pesado",
iniciando uma hiperventilação (a pessoa começa a ficar ofegante). Quanto melhor treinado aerobicamente o indivíduo, menor
será a produção de ácido láctico.
Bem, até agora, vimos o ácido láctico como sendo mau para o nosso rendimento. Mas, e quando ele se torna benéfico?
Outra forma de diminuir a concentração de ácido láctico pelo organismo é aumentando a remoção dessa substância. O ácido láctico pode ser removido pelo suor, pela urina, tapado pelo bicarbonato ou ainda utilizado como substrato energético pelo fígado e pelo coração. Nesses dois últimos casos, vemos que uma molécula de lactato pode também ser utilizada como forma de energia, sendo de grande valia para o organismo.
Existem testes, como por exemplo o teste de lactato ou teste eroespirométrico, que identificam o ponto onde a produção de
lactato é maior que a remoção, ocorrendo um aumento na concentração de lactato o que chamamos de limiar anaeróbio.
Enfim, como tudo na vida tem dois lados, o ácido láctico não é diferente. Além de causar a sensação de cansaço e mal estar
durante o exercício, ele também é utilizado como fonte energética.
Por Marcelo Barros
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